O que todos querem é um curso em Hogwarts, com direito a varinha

Quer saber, é curioso falar e ver gente falando ano após ano sobre Lean Startup, sobre Pretotyping, Canvas Validation, Canvas Learning, Design Thinking, Business Model Generation, … pior que isso, é ver cada vez mais minhas redes falando de métodos ágeis, de MVP, de Scrum e Kanban, de Lean Thinking, e … enquanto isto continuam rasgando dinheiro e fazendo mais do mesmo jeito de sempre!

Pessoas com dezenas de cursos, certificados, palestras, discursos decorados, mas o que impera é o desperdício de todo tipo de recurso, de tempo, dinheiro, tecnologia e principalmente pessoas. Sério, empresas da era do conhecimento não são muito diferentes de muitas crianças, se a resposta não é a que queria ouvir, perguntam a outra pessoa e vão tentar encontrar alguém que diga o que querem ouvir.

No fundo, no fundinho das almas, o que procuram é um método mágico, que não gere desperdícios igual ao Lean, mas que não tenha que para isso ter que se preocupar dia-a-dia com o que está acontecendo. Que planeje projetos como o Scrum, mas que acerte sempre e não precise tanto tempo planejando. Que sustente a cadência de produção em alta performance como o Kanban, mas que independa do perfil e psique das pessoas. Que crie soluções fantásticas como o Design Thinking, mas não tenha que envolver tantas, só uma é um bom custo-benefício.

hogwarts

Senão vejamos, afinal de contas, qual a resposta que todos querem ouvir? Qual o método mágico que querem encontrar? Existirá uma técnica deste mundo que satisfaria os desejos de 3B (bom, bonito, barato) das empresas? As empresas contratam consultores de qualquer novo modelo, certificação ou treinamento, na esperança que as pessoas voltem de lá sabendo como resolver problemas para os quais, lá no fundo, sabem que a solução exige princípios, esforço e dedicação.

Profundidade – A galera assiste cursos e palestras, leem livros e artigos, mas só o que conseguem fixar é o label, não porque o conteúdo é difícil de entender, mas porque ao perceber que são difíceis de fazer, preferem se utilizar de uma dose cavalar de dissonância cognitiva e racionalizam, negam, transfere, projetam;

Zonas de conforto – O status quo em projetos de software e na TI em geral é conveniente a todos, a relação baseada em escopos fechados, change management, linhas de comando e especialização gera situações em que nunca ninguém é de fato culpado, todos tentam, mas entre mortos e feridos todos sempre se salvam;

Domínio – Toda mudança passa por quebrar paradigmas, mudar hábitos e substratos, mas tudo isso gera desconforto frente ao desconhecido. No lugar de desconstruir o que já sabemos para construir algo novo, mais seguro é continuar fazendo o que sabemos … e continuar reclamando e fazendo teatro;

“Logo na minha vez” – Há toda uma geração que batalhou muito para ser chefe ou gerente de alguma coisa, mas logo na vez deles poderem fazer o que lhes é mais conveniente e ganharem a ribalta, agora vão querer valorizar e dar alçada ao coletivo, com auto-organização e ribalta ao capital intelectual do time;

Argumentação – Esta é uma ciência fluida, onde qualquer um pode ter razão e vencer uma discussão em prol da melhor solução ou alternativa, no universo das argumentações elimina-se o interesse pessoal oculto, hierarquia ou idade, valem dados, informações e conhecimentos … não poder impôr é inaceitável para alguns;

MVP, Pretotyping, Get Out of the Building, Wizard of Oz – Essa história de validar o problema, a solução, cada passo, de não fazer nada antes de apresentar um mock, de usar técnicas para empatia e sinergia com o mercado e time é uma agressão ao egocentrismo, arrogância, arte cênica, blindagens e inseguranças;

Interação – Ter que gerar performance com pessoas diferentes de nós é muito difícil, então é mais fácil tentar transformar todos em meros cumpridores de ordens … técnica essencial da revolução industrial, final do século XIX. Dai querem que chefes virem lideres, que tenham sensibilidade, parem de xingar e fazer teatro como se a (maior parte da) culpa não fosse deles também;

O fato é que na era do conhecimento e com a geração Millenials batendo a porta, está mais que na hora de deixar de sonhar com um método Hogwarts para desenvolvimento de software e considerar trocar o livro de Frederick Taylor (1903) da cabeceira e colocar outro em seu lugar … afinal, já estamos em 2015 e muitos ainda não entenderam que Tempos Modernos de Chaplin era sarcasmo.

A mudança é um omelete, não se pode fazer sem quebrar uma porção de ovos!

Você está perdendo tempo, desista de esperar ou tentar encontrar um método ou framework que venha com varinha mágica, para chegar aos resultados que você quer será necessário arregaçar as mangas e aplicar não uma, mas variados métodos, técnicas e boas práticas que já estão aí (a décadas) … e trabalhar a galera para que aos poucos virem a curva da fase de storming previsto por Tuckman.

3 comentários

  1. É o velho queremos mudança, mas não queremos mudar. Parabéns pelo texto Audy, acho que não só como uma reflexão para equipes é uma reflexão pessoal de que se queremos mudança, seja pessoal ou profissional, o primeiro passo é ter coragem de quebrarmos nossos próprios paradigmas (ovos para fazer um omelete, como você ilustrou bem).

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    1. Oi Morvana, boa reflexão para 2016, se queremos mudanças, é preciso rever nosso conceitos, arregaçar as mangas e ir a luta. Bom final de ano e um 2016 repleto de boas mudanças pra todos nós \o/

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      1. Sim, faço minha suas palavras de desejo para um 2016 com mente aberta e coração brando para todos nós \o/

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