Agile e democracia não é só a voz da maioria, é mais que isso

Agile tem muito a ver com experimentação e aprendizado, direto ou indireto, de forma que busquemos compreender o que aconteceu a cada ciclo, o que poderia ou deveria ter acontecido, estabelecendo um mindset de melhoria contínua. Com este fim, devemos buscar mais que “maioria”, que mesmo estabelecida, é preciso ouvir, mitigar ou potencializar desafios percebidos pelas minorias.

Não fosse assim, correríamos o risco da ditadura da maioria, acho que inexiste democracia ou agilidade se não houver um senso de corpo que nos mova a sempre tentar entender o outro, gerar empatia, buscar sinergia. Para tanto, além de conhecer a maioria, também é preciso entender e respeitar a minoria. A pena pode ser desperdício, negar a inovação, a disrupção.

Todos nós somos dados a crenças e ideais, ao compreendermos algo como útil, gerador de valor para o atingimento de nossos objetivos, tentamos utilizá-lo de forma melhor possível … tem muito a ver com o que o psicólogo Albert Bandura chamou de Aprendizado Vicariante, desde crianças repetimos aquilo que percebemos como bom e positivo para nós ou a quem queremos bem.

Por isso, lastreamos decisões e ações a nossos princípios, que agem em nossa vida de forma cumulativa e complementar desde a infância, por auto-preservação, bem ao próximo, religião, muitos são escoteiros, praticantes de artes marciais, conheço uma galera que é agilista. A soma disso tudo faz com que assumamos um papel colaborativo, que nos define enquanto seres sociais.

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Após entender isso é que agilidade começa a fazer sentido, porque a simples maioria pode ser tão perniciosa ou pior que comando-controle. Por isso os frameworks baseados em Lean iniciam pelo conceito de empatia, derrubando feudos, construindo um senso ampliado de time, liberdade e responsabilidade. É preciso relevar prós e contras, assumir riscos, convergir é mais que decidir!

No berço da democracia, Sócrates e Platão falaram sobre a Tirania da Maioria (oclocracia). Em agilidade, o conceito por trás de um senso ampliado de time, é investir e valorizar o protagonismo de todos. Todo e qualquer grupo humano possui formadores de opinião, que exercem algum tipo de liderança, cabe ao conjunto auto-conhecer-se e gerar decisões, executá-las, discuti-las e aprender.

Ter direito a opinião e feedback, valorizar a argumentação, buscar tomar decisões conscientes, não só pela maioria ou por conveniência, mas por estratégia. Se queremos gerar valor, é preciso ter a responsabilidade de entender seu contexto, que pode e é normal que mude a cada ciclo, a cada entrega, tomada de decisão, time to market, ROI, sustentabilidade, … fosse fácil, todo mundo já faria!

Agilidade é um grande desafio a todos os envolvidos, todos precisam mudar a forma como se relacionam – o cliente tem que participar de fato, o time deve se auto-organizar, as lideranças tem que se reinventar, praticar devops para gerar melhores resultados, todos em conjunto devem gerar mais valor, … tudo isso é mais que imposição ou maioria, porque maioria é a mesma Zona de Conforto!

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4 comentários

  1. …muito bom… apesar do assunto ser muito complexo… mas com certeza sua visão em Agile é de muita clareza e objetividade.

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    1. Agradeço a parceria! Se tem gente no meio, é complexo … tu já viu o vídeo da fábrica do modelo A Mercedes? É fantástico É uns 95% automatizado, com centenas de robos e equipamentos programados … é bem mais simples, porque gente tem o fascínio de ser cada um único 🙂 rsrsrsrsrsrs Bom Carnaval aí e até a próxima!

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  2. Oi Jorge, parabéns pelo artigo! Foi esclarecedor, muito obrigada! Especialmente porque tenho tido alguma dificuldade em ajudar a promover este senso ampliado de time a que se refere e, em partes, acredito que talvez seja pelo fato de nem todos aceitarem que é preciso mudar a forma como se relacionam. Como bem disse, cada um tem suas crenças e ideais e nem todos estão “preparados” (ou abertos) a ceder para ouvir ou tentar algo diferente, enfim… É um desafio e tanto! =)

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    1. A cada retrospectiva é explícito que zonas de conforto estão sendo sacudidas e, via de regra, mesmo com resistências decorrentes disto, a galera concorda que está melhor que antes e que a discussão não é voltar ao modelo antigo, mas o desafio de como e por onde avançar a cada passo … baby steps! 🙂 Bom 2017 aí e fica a vontade para comentar, criticar ou complementar \o/

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