Pulo do gato ou equívoco da TI Bi-Modal do Gartner?

Premissa: É preciso diferenciar planejamento de execução, porque Bi-Modal deveria tratar de planejamento e não, nunca, jamais de execução … Porque na minha opinião, se enveredar para execução, não rola 😦

Nos artigos que li sobre a TI Bi-Modal e Pace Layered do Gartner, nunca fica claro para mim o quanto diz respeito a planejamento e/ou execução. E por perceber em mais uma reunião hoje que esta lacuna não é só minha, mas de muitas pessoas, fico até mesmo a me perguntar se é uma lacuna de entendimento, fragilidade do modelo ou um proposital pulo do gato.

A pedido da onça, o gato ensinou seus pulos e truques. Após aprender a onça tentou pegar o gato, mas o bichano deu um salto para trás e fugiu. Algum tempo depois a onça reclamava que o gato havia lhe escondido o “pulo do gato”, mas o bichano respondeu que este era seu trunfo, ele não ensina a ninguém.

O Gartner propõe a alguns anos uma estratégia chamada PACE LAYERED, que diz respeito ao tratamento dado as diferentes soluções existentes nas TI das organizações. É preciso entender natureza e propósito de aplicações e sistemas, melhor percebidos como sendo de inovação, diferenciação e registro, a partir do quanto e frequência que mudam e se adaptam ao negócio, mercado ou tecnologia.

Daquilo que sei, entendi e está em artigos no próprio site do Gartner, discordo veementemente ao que eu diria categoricamente: É um equívoco ou não está claro! Não está claro até onde a visão de TI Bi-Modal enxerga que o fato de uma solução endereçar-se a um método tradicional e waterfall, manteria também um modelo mental, princípios e conceitos Lean (gemba, iterações, feedback, kaizen).

A imagem abaixo extrai de http://www.gartner.com/it-glossary/bimodal/

Bimodal-IT_Gartner

bimodaltable

• Sist. Registro: Estruturais, que sustentam as regras de mercado, legislação e essência do segmento em que atua;
• Sist. Diferenciação: Soluções que sustentam regras de negócio relacionados às suas competências essenciais, diferenciais competitivos;
• Sist. Inovação: Novas soluções relacionadas a inovação e empreendedorismo, ideias experimentais, projetos com alto potencial de mudança.

DISCORDÂNCIA

Discordo em gênero, número e grau do quadro e base essencial da TI Bi-Modal nos termos do quadro e diferenciação proposta pelo Gartner, a não ser que minha discordância seja o pulo do gato, ou seja, propositalmente dúbio, mas ajustado quando em trabalhos de consultoria da gigante americana. Para mim os artigos, diagramas e tabelas nos levam a uma interpretação perigosa, pois:

INOVAÇÃO: O perfil, natureza e cadência de alterações e adaptações exige planejamento e execução ágil, o uso de práticas baseadas no método SCRUM, planejamento usando Inception, execução em sprints com ciclos de DoR e DoD;

DIFERENCIAÇÃO: Na minha opinião só duas camadas já seria suficiente, baseadas no conceito de planejamento tradicional ou ágil, mas SEMPRE uma execução ágil … explicarei melhor mais abaixo \o/

REGISTRO: O perfil mais regulatório ou de risco, como legislação ou missão crítica podem exigir um planejamento mais tradicional, onde temos antecipação de detalhamento e documentação extensiva, mas com uma execução ágil.

MINHA VISÃO E ARGUMENTOS

O número de camadas indifere, podendo sim ter duas, três ou quatro, chamando a atenção para soluções altamente reguladas até soluções muito disruptivas. Esta variação pode nos levar a planejamentos mais faseados, exigindo maior tempo para entendimento e modelagem, mas JAMAIS isto poderia dizer que vale a pena trabalhar 100% em waterfal … acho esta percepção absolutamente equivocada.

Um planejamento pode ser mais tradicional ou ágil conforme os pressupostos da TI Bi-Modal, entretanto sua execução usando ciclos curtos de construção e feedback, comunicação com transparência, inspeção e adaptação, … Não consigo entender porque executar no modelo tradicional poderia ser benéfico, só porque o planejamento foi tradicional e extensivo.

Minha experiência diz que metas de curto prazo, ciclos de 2 semanas de execução, feedback e planos de ação para ajustes de rumo são como caldo de galinha … comunicação faz bem, colaboração também, assim como pequenos objetivos e vitórias de curto prazo.

Acho que a intenção da Pace Layered e TI Bi-Modal é positiva, mas em algum momento se perderam na mão ou foram radicais demais na divisão … Deve até ser música para ouvidos mais resistentes a velhos paradigmas e dilemas, mas acenar a eles com a sobrevida do modelo waterfal tradicional e eles acreditarem chega a ser ingênuo. A cada dia a força de equipes auto-organizadas se revela um caminho sem volta na área privada e pública, não adianta espernear.

Na prática, temos distanciamentos de clientes ou não decorrentes de variados fatores, todos fora de nosso controle, mas sempre será importante termos um representante do cliente, designado por ele para acompanhar o projeto (pressupondo que este projeto tem alguma relevância). A não ser que alguém ache que por ser um sistema de Registro, não haverão imprevistos, desvios, necessidade de manter a todos informados do andamento (se o projeto tiver algum valor).

Quanto ao prazo, o uso ou não de planejamento completo em profundidade ou ágil, nada tem a ver com ciclos curtos onde os integrantes do time devem manter alinhamento, execução, validação e ajustes. Negar esse princípio ágil é estabelecer que o time não precisa ter metas de curto prazo e responsabilizar-se por trabalhar coletivamente para atingi-las, uma de cada vez, sempre com uma visão de todo, um olho na sprint e outro no Release Plan.

Segundo a Lei de Parkinson, o trabalho se expande de modo a preencher o tempo disponível para a sua realização, tem a ver com a famosa síndrome do estudante, se o ciclo é de “meses”, haverá sempre uma potencialização do risco de errar o tempo de reação. Se a resposta é que projetos de Registro são mais aptos a termos novamente uma só pessoa gerenciando e a equipe executando tarefas … meus argumentos acabam aqui, porque considero isso em todos os prismas um retrocesso a tudo o que aprendemos desde o advento da cultura Lean.

Provocação final: Assim como os irreversíveis Open Spaces, com seus prós e contras, teremos com certeza profissionais que se agarrarão nesta referência de peso, para dizer que são do Mode 1 e que mantém waterfal por recomendação do Gartner 😦

AGILE MULTIMODAL IV

ahmed-sidky-keynote-14-638Multimodal IV

7 comentários

  1. Talvez esse seja um estudo financiado por grandes mega corporacoes que veem no agile um risco ao inves de uma solucao 😉
    Tambem ja li o termi Agile Hibrido que me parece uma tentativa de fundir os dois mundos (planejamento extensivo, requisitos documentados com entregas rapIdas em iteracoes curtas).
    Muito legal tua interpretacao Jorge!
    Abraco!

    Curtir

    1. É por aí mesmo, híbridos, porque projetos podem ter especificidades que exijam planejamentos iniciais mais ou menos detalhados … mas a execução iterativo-incremental e realmente participativa é irreversível como fórmula para geração de valor \o/
      Agradeço a parceria,
      [ ]

      Curtir

  2. Gostei muito do post, e confesso que estou perdidaço. Vou procurar ler sobre isso – como de hábito, seu blog traz coisas que eu nunca vi – e depois reler. Por enquanto eu estou boiando…

    Curtir

  3. Audy,

    Estou relendo o artigo que já li algumas vezes, parabéns e obrigado pela contribuição. Concordo com muitas das tuas observações.

    O Pace Layered na verdade ele não classifica aplicações nem projetos, ele classifica capacidades de negócio. Por muito tempo eu fiz esta confusão. Uma determinada parte do meu negócio é composta por diversas aplicações mas o meu entendimento sobre o modelo que o que é classificado é o conjunto e não as aplicações de maneira individual. A velocidade do modo 2 é tão rápida quanto a dependência mais devagar que estiver no modo 1.

    Algumas organizações, especialmente as que tem um porte maior (10000+ colaboradores) enxergam no Waterfall um custo mais baixo para executar projetos sem ajustes de escopo, sem imprevistos, sem desvios (legais ou normativos – note que aqui não é o tipo de sistema que será modificado e sim “a demanda”. Esta “demanda” pertence a uma capacidade de negócio e esta capacidade de negócio que é classificada pelo Pace Layared). Como os prazos tendem a ser fixos também, existe uma percepção de baixo risco e pouca incerteza (que muitas vezes não se confirma). Com base na minha experiência, é comum que estas entregas ocorram sem a qualidade adequada para a demanda.

    Por fim, um ponto que eu acredito que seja extremamente relevante é o seguinte: As organizações não possuem Modo 1. O Waterfall que vemos em muitas empresas não tem boas práticas de engenharia de software, não possuem estratégias de testes adequadas para garantir a qualidade necessária para aquele determinado produto, não possuem automação de tarefas repetitivas e caras, e muitas outras. Meu ponto é: muita empresa por aí tem o Modo 0 e acha que é Modo 1.

    Curtir

    1. Báh, “muita empresa por aí tem o Modo 0 e acha que é Modo 1” é sensacional. Independente do Modo 0, 1 ou 2, uma maior e melhor comunicação, ciclos curtos com iterações e conhecimento de causa ao invés de comando-controle é o diferencial.

      Curtir

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s