Startup Thinking

Com a adoção da cultura Startup por grandes empresas, o Gartner disseminou a partir de 2012 uma combinação de modelos a seus clientes e ao mercado – design thinking, lean startup, UX, Agile, Growth. Acredito nisso, participo de projetos, experimentos e debates sobre esta simbiose de ferramentas, geradoras de uma poderosa Toolbox para pequenos, médios e grandes.

Adaptado de “Hacking Growth: How Today’s Fastest-Growing Companies Drive Breakout” – Ellis e Brown

Mas, na minha opinião, estes modelos induzem a ver uma jornada linear, da esquerda para a direita, ao invés de uma espiral interativa. A cada ciclo reiniciamos com um novo desafio incremental, onde usaremos reiteradamente os princípios, abordagens e técnicas do Lean Startup, Design, UX, Agile, … a cada passo, novos desafios e hipóteses a validar.

ALEGORIA DO RALLY

Em um Rally, o percurso são as etapas que devemos percorrer, com ou sem paradas, análogos à problema, ideia, product-market fit, modelo, protótipo, MVP, MMP, produto, escala. As metodologias e boas práticas não são etapas, elas são o carro, mapa, GPS, equipe técnica, são os métodos e boas práticas que vamos reutilizar a cada trecho.

É preciso estar se comunicando o tempo todo, aferindo, fazendo cálculos, analisando o mapa e o GPS, atento ao tempo e a comunicação, gasolina, óleo, água, … Também há vários tipos de rally, assim como estratégias de uma startup – estrada, cross country, resistência, regularidade, usando um carro, moto, caminhão, com ou sem patrocínio.

MODELO STARTUP QUEST

Proponho aqui o modelo “Startup Quest“, uma espiral para soluções inovadoras. É para ser um modelo didático, por isso está organizado da seguinte forma: A esquerda temos 6 (seis) forças motrizes, ao centro um ciclo de 4 (quatro) disciplinas, a direita uma espiral com 7 (sete) etapas evolutivas, passível de Pivots (recomeçar, permitir-se mudar).

A essência do modelo está em uma espiral, onde a cada giro definimos a estratégia mais adequada para aquele momento, a partir do problema que queremos resolver, ideia, modelo, protótipo, produto, … Para desenvolvê-lo, usaremos princípios e técnicas do Design e do Agile, visando gerar valor de forma enxuta, em prazos e custos adequado.

Eu pensei muito sobre a explicitação do Lean Startup, mas Steve Blank e Eric Ries não são um ciclo ou passo, são o mindset, o customer development é a base para todo o modelo, está implícito na espiral, a cada giro, em eventuais pivots que mudem o entendimento do problema ou da ideia de solução … ele não precisa estar explícito, é o ar que nos oxigena.

PROPÓSITO E HUMANIDADE

Tudo inicia pelo nosso PROPÓSITO, o que nos move, porque empreender. Uma referência comum são os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, gerar valor de forma equânime, equilibrando a forma como é gerado, distribuído e mantido. É responsabilidade de todos e per si são fonte inesgotável de novas soluções e inovação de interesse social.

Nele, é preciso termos interesse em RELACIONAMENTO HUMANO, porque escuta ativa, ética e empatia NÃO é só com o cliente, mas sócios, parceiros, colaboradores, estabelecendo sempre comunicação e ambiente positivos. Ser ágil na agilidade, usar princípios, foco, equidade e ciclos iterativo-incrementais-articulados para antecipar e melhorar.

Na alegoria à escalada do monte Everest, tão importante quanto preparo e equipamento, são parceiros de viajem. Aqueles que deveremos contar uns com os outros para superar os obstáculos – contrapeso, apoio, influenciando nosso ânimo e engajamento e vice-versa. Cada um deles é importante, com benefícios em equidade até o objetivo … o cume!

1. FORÇAS MOTRIZES

Apoiadas e alimentadas por nosso propósito, temos seis forças motrizes, apresentadas à esquerda no modelo, simbolizando a energia necessária para fazer girar a espiral de desenvolvimento. Cada uma delas exige empenho e juntas geram o substrato necessário para desenvolvimento de uma solução inovadora, desenvolvimento de clientes, escalar a solução e a empresa, enquanto organização:

  1. ECOSSISTEMAS – Pertencer a uma comunidade, acelerar seu desenvolvimento pela interação com outras startups, empresas e profissionais – associações, aceleradoras, incubadoras, parques tecnológicos, hubs, …;
  2. MERCADO – Participar direta e indiretamente do mercado-alvo, adquirindo conhecimentos necessários, mas também gerando conhecimentos e interagindo pró-ativamente, o que acelera sua visibilidade e espectro;
  3. INVESTIDORES – Governo, universidade, empresa e investidores vem construindo alguns dos ecossistemas mais ativos e inovadores no Brasil e no mundo. Cito bootstrap, investidores-anjos, capital semente, venture, building, etc;
  4. PARCERIAS – Nada mais categórico que enxergar parcerias não como uma necessidade, mas a maior oportunidade ao alcance de uma startup. HWang em sua teoria Rain Forest, destaca estas simbioses como a força do Vale do Silício;
  5. EQUIPE(S) – Um produto ou serviço necessita de uma equipe, pois mesmo com recursos limitados, é preciso montar a equipe possível e necessária a cada passo, sem desperdícios. Envolver, engajar, desenvolver, desafiar e retribuir;
  6. TECNOLOGIA – Tudo é tecnologia, métodos, técnicas, boas práticas, hardware e software, é preciso selecionar, experimentar, aprender e melhorar, novamente sem desperdícios, o exclusivamente necessário a cada passo.

2. CICLO DE DESENVOLVIMENTO

O ciclo representa a evolução – uma estratégia compatível a cada passo, uso de técnicas de empatia e modelagem do design thinking, seguido de planejamento e execução ágil, todas elas permeadas por uma abordagem orientada a dados e evidencias. A pesquisa exploratória tem seu ciclo, o protótipo também, o MVP tem seu ciclo, o MMP e ganhar escala.

Há equívocos na interpretação do design thinking como passo inicial de empatia e co-criação, minha visão e uso é bem mais amplo, temos ciclos onde o mindset e técnicas do DT são recorrentemente aproveitadas, assim como princípios e métodos ágeis, óbviamente fruto de um plano, sob uma estratégia, sempre orientado a dados.

  1. ESTRATÉGIA – Estabelece o ciclo em curso, nos ajudando a compreender qual é o nosso desafio na jornada que estamos empreendendo, propondo um setup mental e preparação dos recursos e pessoas necessárias. Simboliza a estratégia sobre o nível de abstração em curso ou desenvolvimento que nos desafiamos a co-criar e validar;
  2. DESIGN THINKING – A cada ciclo, podemos ter as mesmas ferramentas e técnicas a serviço de um novo passo, em diferente profundidade e materialização, desde a concepção, primeiras validações, estágios primordiais da solução. Com uma proposta de empatia, entendimento, brainstorming, prototipação e testes, ajudará a nos manter com o mínimo desperdício;
  3. AGILE THINKING – A construção de um time ágil e gestão ágil de projetos, desde o momento de concepção, passando pela modelagem e protótipos de baixa, alta, MVP ou MMP’s, até a escala, manterá os princípios ágeis, gestão visual, ciclos curtos de feedback e melhoria contínua para máxima aceleração e empirismo;
  4. EVIDENCE BASED – Representa a constante coleta de dados em cada ciclo e em cada passo, gerando métricas, indicadores e dados de pesquisa, construção e funil, que pode ter um aspecto mais conceitual ou material conforme avançamos. Data Driven e Growth Hacking como fonte de inspiração ao não desperdício de informações.

3. A ESPIRAL DE DESENVOLVIMENTO

Tudo parte de um problema ou DESAFIO que mereça ser atendido, é o primeiro passo do Lean Startup, é a base da espiral aqui proposta. Esta é a essência que irá nos acompanhar em toda a espiral, a cada passo estaremos revendo, relembrando e evoluindo nosso entendimento do problema que embasa e motiva a solução que estamos desenvolvendo.

Steve Blank afirma que não podemos dar maior valor à solução que ao problema, não podemos nos apaixonar pela solução, mas pelo problema, isso nos permitirá uma escuta ativa e mudar se preciso, porque o que buscamos é uma solução que resolva um problema da vida real. Esta premissa nos autoriza a pivotar até encontrar nosso desafio, uma solução.

A cada ciclo, a espiral providencia a estratégia para levar a bom termo o seu ciclo de desenvolvimento, representativos no desenvolvimento de uma solução inovadora, clientes e mercado. Não é obrigatório passar por todos os ciclos previstos, porque é possível imaginar a aceleração ou retroação do fluxo.

  • PROBLEMA – Um problema que merece e vale ser solucionado, apaixone-se pelo problema! Aqui temos um ciclo exploratório, de prospecção, de empatia para identificar ou confirmar a hipóteses de um problema, se existe, se resolvê-lo geraria valor, se vale o investimento, o tamanho deste problema enquanto oportunidade. Utilizamos sim de estratégia a ser definida, como se utilizar de boas práticas de empatia e validação, o Agile ajuda a planejar e executar rapidamente, gerando dados qualitativos e/ou quantitativos;
  • IDEIA – O trabalho de desenvolvimento de ideias em sintonia, empatia e sinergia com o mercado. Um ciclo com estratégia para ideação, pesquisas semi-estruturadas, ciclo dedicado a desenvolver o possível das ideias. É preciso estabelecer um plano de boas práticas, ser ágil e enxuto, de forma a sair com um percepção clara do quanto uma ideia atende o problema, permitindo a percepção de próximos passos;
  • PROTÓTIPO – Construção e validação de pretótipos, protótipos, wizard of oz, … exige planejamento. Validado até aqui os primeiros passos, protótipos podem ser um simples storyboard, rabiscoframes, pretótipos rudes, protótipos chapados ou navegáveis, 2D ou 3D, … cada um tem seus pontos fortes, é saber usá-los da melhor forma possível evoluir na validação daquilo que compreendemos até aqui;
  • MODELO – O desenvolvimento de modelos conceituais do produto, serviço, negócio. Quando iniciamos a modelagem, estamos alguns passos a frente, a modelagem nos permite entrar no mérito de negócio, além do problema e ideias, mas modelando as possíveis soluções, desenhando e validando seu product-market-fit, modelos de rentabilização, desde já projetando alternativas de escala e crescimento;
  • MVP – A possibilidade de construção de mínimos produtos viáveis para validar hipóteses-chave. Este é um conceito que tornou-se um mantra do Lean Startup, o suo de MVP’s tem o poder de validar algo que em projetos tradicionais demandariam semanas ou meses de funcionalidades ou pedaços de solução construídos ao invés de frações suficientes para validar as principais hipóteses e serem apoio à tomada de decisões;
  • MMP – O lançamentos de versões comerciais, Betas, candidatos e seus releases incrementais. Adiante dos MVPs, temos funcionalidades e versões já utilizáveis pelos clientes. Mesmo antes de termos uma versão mais robusta. Após um MVP validado com baixo investimento e bons feedbacks, termos versões comercializáveis, iniciais, é fundamental e já nos permite ações de Go To Market e Growth mais agressivas;
  • ESCALANDO A SOLUÇÃO – Aqui começam ciclos iterativos-incrementais ad eternum, com lançamentos de novas releases, melhorias, também corretivas. Chegou a hora de crescer, de escalar a solução, Go To Market, Growth Hacking, marcar presença, consolidar e ser mais agressivo na conquistas da maior fatia do mercado possível. Cabe muito design thinking e Agile para cada ideia, cada possível estratégia, gerando ciclos de validação e execução enxutas;
  • ESCALANDO A EMPRESA – Produto escalado, é preciso escalar o negócio, a empresa como um todo. Um evento antológico que assisti no TecnoPUC há alguns anos foi de um diretor de uma grande empresa de marketing digital com a palestra batizada de “De desenvolvedor a CIO!”, um storytelling contando como aos poucos teve que criar equipes e delegar, desapegar do que mais gostava, a medida que cresciam, para focar na estratégia da empresa.

Gosto do modelo de combinação, que o Gartner propôs com sucesso, com três estágios, o de Lean Startup, Design Thinking e Metodologias Ágeis, mas um modelo cíclico em espiral representa mais para mim o desafio de uma startup no desafio evolutivo e cumulativo de um product-market-fit.

DESAFIO TOOLBOX PARA STARTUPS

O modelo acima tem como extra o conjunto de ‘cards‘ abaixo, contendo agrupamentos intrínsecos ao desenvolvimento de uma solução inovadora por uma startup, oferecendo drivers e abordagens reconhecidas como estratégicas em nove categorias. O objetivo é instigar a reflexão, o debate, gap analysis e plano de ação.

A alegoria é a de um baralho, onde cada carta representa uma reflexão sobre quesitos relevantes no desenvolvimento de soluções e startups. O objetivo é didático, proporcionando auto-conhecimento e auto-diagnóstico sobre temas relevantes para o sucesso.

INSPIRAÇÃO – Diferentes perspectivas sobre fontes de conhecimento e informações:

Propósito ; Banco de Ideias ; Eventos Startups ; Eventos variados ; A grande rede ; Design Sprint ;

CONEXÕESPrismas relacionados a conexões, relacionamento, ecossistemas e assimilação;

Comunidades startups ; Ecossistemas ; Mentoria e Coaching ; Networking ativo ; Parcerias estratégicas ; Presença digital

ABORDAGEM – Diferentes modelos conceituais que atuam como substrato ou modelo mental;

Effectuation ; Game Storming ; Lean Startup ; Métodos ágeis ; Toolbox 360° ; Design Thinking

PESSOASAspectos geradores de valor através do desenvolvimento humano e coletivo;

Team Building ; Employee experience ; Capacidade absortiva ; Mídia e visibilidade ; Jogos 360° ; Liderança

EMPATIA E MODELAGEM – Abordagens essenciais para a definição daquilo que se quer e necessita;

Desafio de Design ; Personas ; Consultas ; Proposta de Valor ; Jornada ; Brainstorming

PROTOTIPAÇÃO E TESTES – Alavancagem para apresentação e validação de nossos pressupostos;

Pre/Prototipação ; Hipóteses ; Plano de Validação ; Testes ; Pivot e escopo aberto ; Showcase – Pitch

PLANO TÁTICO – Reflexões e planos essenciais para construir uma espiral de desenvolvimento:

Business Model ; MVP-MMP-Releases ; Product Roadmap ; Investimento ; Growth Mindset ; Go to Market

PROJETOS – Peças singulares para projetos geradores de valor, aprendizados e melhoria contínua:

Planejamento ; UX – User Experience ; Product Backlog ; Tecnologia ; PDCL (empirismo)Execução 

EXPERIÊNCIA – Agregar valor, monitorar e analisar a experiência em prol de human centered design:

Gestão visual ; EBM (gestão por evidências) ; Feedbacks ; Storytelling ; Piloto e Rollout ; Gamification

EXTRAS

A seguir tópicos adicionais e complementares, pois o Startup Quest oferece uma abordagem metodológica de alto nível, substrato onde serão aplicadas técnicas e boas práticas em uma granularidade menor e mais específica. Por exemplo, no TOOLBOX 360°, temos facilitação, canvas, modelos, boas práticas, … úteis na implementação de cada card acima.