Coach – Se a solução é só dele, provavelmente ela vai embora com ele

Em determinado momento de 2018, uma PO que muito admiro me disse algo que me deixou surpreso, ela esperava maior energia e protagonismo meu junto a equipe, que em workshops e treinamento eu era enfático ao argumentar técnicas e boas práticas, mas junto ao time no dia-a-dia eu passava quase desapercebido.

A questão é que eu acredito em tudo o que eu digo, senão não compartilharia, acredito em PDCL, em auto-organização, no coach como um irmão mais velho, não como um pai sargentão, o papel é aportar expertise e possibilidades, ajudar que as pessoas do time ou grupo se apropriem, decidam e melhorem a cada retrospectiva.

Quer seja consultores, facilitadores, Scrum Masters, Coachs, Agile Coachs, Enterprise Agile Coach, Supercalifragilisticexpialidoce Coach (by Mary Poppins), se a solução não é fruto do debate colaborativo sobre o desafio, contexto e alternativas, provavelmente vai chegar com o Coach e depois vai embora com ele.

Ahhhhh, elas podem errar, mas podem errar com ou sem imposições cotidianas, se não conseguimos lidar com isso é porque falta confiança na capacidade dos profissionais, porque dado os fundamentos, argumentos e modelos, a experimentação e aprendizados irá seguir o seu caminho em ciclos curtos a cada retrospectiva.

Em Maio eu postei um entre tantos posts sobre o papel, mindset e missão de um Agile Coach, refletindo sobre a abordagem de Len Lagestee em que afirma que um Agile Coach não deveria trabalhar para perpetuar-se, mas para tornar-se dispensável.

Ele NÃO deve ser O protagonista, se ELE aparece mais que as equipes tem algo muito errado, se está lá para apontar erros ele é um gerentão old school, se exerce a nobre arte de distribuir e cobrar resultados ele é GP, se impõe regras e normas ele é da governança, se fica cobrando processo é porque é GQA.

Eu costumo dizer em treinamentos que se o Scrum Master ou Agile Coach são do MIB, mas gostam da ribalta, reconhecimento e fama, esse é um péssimo papel. Conheço muitos que parecem papagaio de pirata, estão sempre na foto, sempre em destaque, chamando a atenção para si mesmo, salvadores da pátria, porque será?

Tem quem seja especialista em tudo, tem resposta para tudo, quase um herói clássico de quadrinhos, que ao final sempre resolve o problema e fica com a mocinha. Tem quem palestre sobre tudo, sempre divulgando seus feitos e protagonismo, muitos ainda se arvoram a criticar e reclamar de quem tenta fazer diferente dele.

Muitos se empenham primordialmente a garantir sua perpetuação, seu crescimento, sua visibilidade, as vezes internamento, mas frequentemente para fora, junto ao mercado, gerando permanentemente factóides e contando apenas a parte mais dourada, obscurecendo os inevitáveis dilemas, erros e aprendizados.

Isso tudo explica bem porque iniciativas muito boas morrem após algum tempo da saída do consultor, coach, facilitador ou Supercalifragilisticexpialidoce alguma coisa. Pode acontecer de qualquer forma, mas inconscientemente as pessoas levantam barreiras frente a imposições, falta de autonomia mínima e estrelismo exacerbado.

Em 2018 e ainda o paradoxo do Super-Herói, asseguro que qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência!

3 comentários

  1. Fantástica a abordagem! O interessante é ver que, muitas vezes, recebemos vagas para Agile Coach e Scrum Master que requisitam exatamente isso: o salvador da pátria. Às vezes, em uma transformação ágil que vem guiada por uma estratégia (imposição) top-down é assim que a agilidade é vista e é assim que estas roles são desejadas. Um ponto importante que eu acredito que as empresas precisam entender é que não adotamos “o ágil”. Nos transformamos em “ágil” para sermos “ágil”. Nunca o método ADAPT fez tanto sentido para mim como está fazendo nos últimos anos e meses.

    Tenho um pensamento muito parecido com o teu e acredito muito no SM e no AC como coadjuvantes e provedores da mudança.
    Parabéns pelo blog e pelo post!

    Abraço,
    Marcelo

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