Sempre aprendendo com mestres, eles fazem história e tem o poder de disseminar, de inspirar, é o caso de CK Prahalad. Já postei uma resenha do seu livro sobre negócios milionários na base da pirâmide econômica, mas em um debate recente nos vimos discutindo ocidente e oriente, capital e social. Começamos a pesquisar exemplos indianos e chineses de mega-empresas seguidoras de Prahalad – baixo custo, empáticos e boa qualidade que os tornam mega-corporações em mercados internos gigantes como dos BRICs.
Imaginamos que ao invés de um carro onde peças e componentes de design tornam muito alto o custo de produção, poderia se privilegiar a segurança e operacionalidade a baixo custo, na pirâmide, os Rolls Royces estão no ponta e atendem centenas, os Fords no meio atendem milhões, uma opção de baixíssimo custo, boa qualidade operacional e boa segurança, por exemplo, atenderia a base da pirâmide, bilhões de pessoas.
Descobri meio que sem querer que ele propôs critérios para uma “caixa de areia de inovação” de países em desenvolvimento. Feche os olhos, imagine o mercado interno de países como Brasil e Índia, cem milhões de cidadãos não atendidos pelas leis do mercado vigente? Dois anos após publicar “The Fortune at the Bottom of the Pyramid” em 2004, nos brindou com a alegoria “Innovation Sandbox” em 2006, sobre a necessidade de estabelecer limites e parâmetros à inovação, serviços de classe mundial a uma fração do custo e preço.
Em tradução livre do artigo dele (Prahalad) ~ Em Bangalore, um quarto de hotel padrão ocidental é US$ 250 por noite. O hotel indiOne cobra 20 dólares, mas tem um giro enorme, é moderno, tem banheiro, TV LCD, wi fi, geladeira, cafeteira e área de trabalho. Na área comum tem cafeteria, caixa eletrônico, sala de negócios e academia. O hotel quer o viajante inteligente, suas margens brutas foram de 65% em 2005, em comparação com até 40% em hotéis de luxo. É escalável e dez desses hotéis surgem em um ano.
SANDBOX (caixa de areia)
Para Prahalad, a areia dá uma sensação de conforto e segurança, ao mesmo tempo estabelece limites, possui uma contenção, representando as restrições da vida real. Ele queria impactar a qualidade de vida das pessoas nos países em desenvolvimento, fazendo história na Índia.
Na caixa de areia da inovação nos países em desenvolvimento, referia-se ele a produtos ou serviço de classe mundial, buscar uma redução significativa de preços, com bilhões de pessoas nestes países é preciso ser escalável e capaz de ser produzido, comercializado e acessível ao fundo da pirâmide econômica.
- A inovação deve gerar produtos ou serviços de qualidade de classe mundial.;
- A inovação deve mirar na redução significativa de preços — pelo menos 90% do custo de um produto ou serviço comparável no Ocidente;
- A inovação deve ser escalável, produzida, comercializada e utilizada em muitos locais e circunstâncias.;
- A inovação deve ser acessível no fundo da pirâmide econômica, atingindo pessoas com os menores níveis de renda em qualquer sociedade.
Não compreendemos os critérios de SandBox da Inovações sem reconhecer seu compromisso com o acesso de baixo custo a serviços de classe mundial à base da pirâmide:
- Especialização – Mesmo a saúde em todo ser em hospitais gerais, os inovadores na Índia são especializados – próteses, oftalmologia, cardiologistas – organizações que tiram o máximo de seus recursos, em escala;
- Preços - A acessibilidade é fundamental tanto para o modelo de negócio quanto para a visão subjacente do serviço, taxas mínimas, padronizadas, em massa;
- Intensidade – Na saúde, os inovadores que buscam reduções de custos inovadoras concentram e aproveitam ao máximo equipamentos e recursos, 24 x 7 se possível.
- Talentos – Operando em meio a uma escassez de médicos treinados, inovadores em cuidados de saúde indianos tiveram que se concentrar nas habilidades que precisam em vez das credenciais de seus funcionários.
- Fluxo - Em um hospital típico, um cirurgião cardíaco admite, examina, planeja a cirurgia e monitora o pós-operatório. A proposta é o cirurgião passar de uma mesa de operação para outra, focado nos procedimentos.
- Clientes - O sucesso desse modelo de negócio é baseado no volume.
Empresas de qualquer país, podem adotar uma abordagem “sandbox” para inovar. Mas requer aceitar algumas premissas que são contra-intuitivas para muitos gestores:
- Eles devem repensar radicalmente todo o modelo de negócio – Tecnologia, distribuição, preço, escala, fluxo de trabalho e organização. Não é evoluir o modelo atual, mas criar novos modelos;
- Em vez de pesquisar mercados, eles devem “ver” seus consumidores-alvo. Empatia etnográfica, no fundo da pirâmide, há desafios difíceis no acesso, consciência, acessibilidade e disponibilidade;
- Eles devem aceitar restrições. Eles não podem fazer todas as coisas; eles devem fazer algumas coisas muito bem. A criatividade inovadora requer um reconhecimento explícito dos limites;
- Não inovar isoladamente, avanços ocorrem em clusters de inovações ao longo do tempo, pequenos experimentos, aprendendo rapidamente, muitos colaboradores e parceiros;
- A mudança só é possível com compromisso claro e incansável estratégico. É desenvolvimento de mercado, diferente de servir um mercado existente de forma mais eficiente.
Post anterior e links úteis
- https://jorgeaudy.com/2020/09/04/a-fortuna-na-base-da-piramide-c-k-prahalad/
- The Innovation Sandbox (CKPrahalad) – https://www.strategy-business.com/article/06306
- Reconhecimento – https://hbswk.hbs.edu/archive/the-fortune-at-the-bottom-of-the-pyramid
- TCC – Princípios de CK Prahalad e exemplos Brasil – https://www.youtube.com/watch?v=pQBGJ9VZd4w

Este post poderia ter poucas linhas, seria suficiente, mas enquanto escrevia tentava refletir entendimento e assimilação de um conceito que é difícil “vender” no ocidente contemporâneo. O status quo distorce as leis do mercado e tenta fazer o pobre gastar mais para se sentir classe média, onde o produto é o de menos, o importante é a experiência de abrir a caixa, de possuir o logo, a caixa passou a ser o “fiel” do produto.
Os princípios explícitos de Prahalad são mais direcionados a criar novos produtos para este segmento, os exemplos de empresas de saúde na Índia são muito ilustrativos, o do hotel IndiOne então, melhor ainda. Não é fazer uma promoção nos hotéis de alto custo operacional para atender viajantes de baixo acesso com luxo desnecessário, mas oferecer hotéis de alto valor agregado e baixo custo operacional adequados.
Não é adaptar o seu marketing ao mercado, mas criar um novo mercado, inspirado nisso surgiram redes de clínicas médicas aqui no Brasil de baixíssimo custo, a maioria próximos de grandes comunidades de baixa renda ou também as clínicas odontológicas voltadas a grande números de atendimento de qualidade a baixo custo. Mas temos muita estrada pela frente, a caixa de areia de Prahalad não tem princípios comuns a todos.
No ocidente, comprar algo adequado é vergonhoso, porque parece que você não pode pagar pelo fru-fru, mesmo que ninguém esteja vendo, mesmo sem alguém julgando, quem nos julga somos nós.
A tempo, na contramão tenho um post antigo mas emblemático – https://jorgeaudy.com/2013/11/01/e-por-falar-em-desperdicio-ninguem-escapa/