Layout e Graffiti – Como mudar as salas de aula?

Professores, alunos e salas de aula tradicionais, muitas ainda com quadros negros (verdes) e giz, todas elas com eternas paredes brancas sem lembranças, com dezenas de cadeiras em filas, dispostas em uma matriz de linhas e colunas … tudo isso sustentando uma relação baseada em conteúdo e avaliação linear em um paradigma secular para comprovação de conhecimento aparente.

A revolução industrial do final do século XIX está para a produção o mesmo que a universidades de Bologna e Paris do século XI está para a educação, modelos criados a luz de outra época, sob paradigmas obsoletos. Ambos assumiam que operários e estudantes deveriam fazer o que lhes diziam sem questionar, de forma padronizada, como se todos devessem ser iguais.

construtivismo

Acredito nos estudos de Piaget, não sobre o processo de ensino, mas no singular protagonismo de cada criança (pessoa) no seu próprio processo de aprendizado. Ele discutiu as condições para a construção do conhecimento, o papel do erro e do esforço. O aprendizado exige provocação e ação ao invés do papel passivo de repetição e obrigação que assumem grande parte dos professores e alunos.

Há boas e louváveis iniciativas na educação, elas crescem a cada dia, mas ainda são exceções a regra em um mar de conveniências, zonas de conforto, equilíbrio contábil e sufocamento de talentos. Na maioria das vezes é mais fácil para o professor ter um conteúdo fixo, massivo, contra o qual todos os alunos devem provar que compreenderam (decoraram) o suficiente para seguir adiante.

Imaginando que instituições, alunos e professores querem mudar, querem tentar fazer diferente, por onde começar HOJE, um simbólico primeiro passo? O que temos em uma sala passível de ser mudada imediatamente, simbólico? Queremos mudar as pessoas, isto está em curso mundo afora, mas isto demanda tempo, será consequência de uma série de debates e embates.

Salas temáticas – Layout e Graffiti incentivando mais interação

Salas temáticas, uma busca simples na internet é possível ver o quanto provocação visual, por simbologia, cores, formas e disposição, o quanto a dinâmica de cada espaço tem força. Neste quesito, a maioria das salas tem elementos há mil anos inalterados, como as paredes brancas e as atemporais “classes”, com mesas e cadeiras dispostas em linhas e colunas.

Graffiti – E se cada sala tivesse um graffiti inspirador, temático, sobre aspectos culturais, ciências, geografia, biologia, informática, inovação, matemática, etc? De que forma a cor, a variedade de símbolos, a inspiração inconsciente para temas de interesse, como podem gerar provocações, contextualizações, mudanças de atitude e imersão, com múltiplas mensagens implícitas.


Formatação – Disposição das cadeiras, algo tão modulável e por incrível que pareça, uma imposição usual das instituições … não bagunçar as salas de aulas, deixando organizadas para o próximo professor. Disposição livre, em ilhas, em ferradura, em círculos como em um fishbowl, há uma dezena de formações que mitigam zonas de conforto, impedem a tentativa de ocultar-se ou esquecer-se.

No blog do Impact Hub, onde a DBserver tem sua sede paulista, encontrei algumas ilustrações de disposição para salas de eventos, um artigo pertinente a facilitação. Uma sala de aula é maior que a sala de eventos abaixo ilustrada, mas o conceito é o mesmo – em espinha de peixe, ilhas, ferradura, reunião, cada qual útil para dinâmicas que suscitam a interação, o debate, a participação, …

Imagino como seria uma escola ou universidade em que tenhamos em cada sala uma disposição e paredes grafitadas, salas temáticas com cores, ilustrações e disposição física peculiares, que passem um recado e lembrem o que estamos fazendo ali. Há empresas que tem uma parede de quadro negro (verde) e o graffite na verdade é um desenho a giz que muda a cada tanto.

Em salas de pós-graduação não é incomum, creio até que seja regra o uso de layout das cadeiras em ferradura, no meu mestrado na FACE algumas salas tinham uma disposição tradicional, em ferradura e outras uma ferradura dupla. Com certeza e acoplamento a meus valores as salas de ferradura eram as mais instigantes … todos de frente para o grande grupo, ao contrário do tradicional em que todos estão de costas …

Quadros Brancos – Em cursos de MBA voltado a executivos e profissionais já é também comum a existência não só do layout em ferradura quanto quadros brancos em várias paredes. Esta estratégia propicia que qualquer discussão possa contar com uma visualização, diagramação, qualquer professor ou aluno estão próximos a um quadro branco e podem utilizá-lo para expôr ideias e posições.

Não fazer nada sempre é o mais fácil, transferir a responsabilidade ou esperar anos em uma discussão interminável por uma mudança definitiva é muito vintage, é puro waterfall (cascata). Porque não tomar pequenas decisões e agir um passo de cada vez, se após algumas semanas não gerar valor, volte atras, se estiver gerando, talvez então aprendamos algo mais e poderemos dar o próximo passo.

PRÁTICA SIMPLES PARA MAIOR FOCO E INTERAÇÃO

“Eu chego mais cedo e faço ilhas asimétricas do meio pra frente da sala, mesmo que não tenha trabalhos em grupos … Em todas as aulas tem debates, exercícios e dinâmicas, que materializam-se em folhas A1 ou A0 para cada grupo (eu sempre tenho um rolo grande de papel – R$70 na Azenha – que dura um semestre). Esta abordagem garante maior atenção e interação, impede que alunos fiquem dispersos e no fundo da aula, em grupo um instiga e provoca os outros, reduz o uso do celular, …”

 

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s