Leve seu cérebro para passear, senão …

Se a sua vida é só repetição de mais do mesmo, por melhor que seja, você já entrou no piloto automático e talvez nem perceba. Se periodicamente você não sair do quadrado e fizer coisas diferentes, muito provavelmente os dias passarão e você jamais saberá do que abriu mão. Você pode viajar e conhecer o mundo, mas se essa não é sua realidade, debata o mundo, mesmo sem sair de sua cidade.

Parafraseando Muhammed Yunus, prêmio Nobel de Economia: A zona de conforto não é criada pelos ineptos mas pelo potencial humano inexplorado, pelas chances desperdiçadas em contribuir para o próprio futuro, “eles morrem com estes dons inexplorados, e o mundo continua privado das suas contribuições” (YUNUS, 2010)

Você pode investir ou fazer sem gastar nada, com força de vontade há uma infinidade de oportunidades que você pode organizar ou participar, há grupos de usuários, comunidades de prática e de interesse, PicNics e Happy Hours coletivos. Sair do quadrado não é trocar de emprego, talvez nem seja mudar algo, mas é ver coisas diferentes, é oferecer a si mesmo a oportunidade de ver o mundo por outras lentes, matutar e depois decidir o que fará com isso.

A capacidade de ter idéias, inovar, criar, empreender, não só no trabalho, mas em tudo na vida, em grandes coisas ou nas ínfimas, dependem do quanto você investe em sua capacidade cognitiva. Depende do quanto você oferece a seu cérebro aprender coisas diferentes, outras áreas, outras culturas, combinação de assuntos diversos e desconectados fazem seu cérebro ser mais inquieto e gerar mais sinapses, cruzar informações, gerar algo novo e imprevisível …

cerebros

Na medida em que crescemos vamos sendo formatados por convenções, expectativas extrínsecas, tanto familiares, sociais e culturais, tradições seculares, repassadas por osmose social, zonas de conforto, inconscientemente vamos nos conformando em seguir a corrente, em ser mais um boi da manada … há exceções, mas normalmente não graças ao sistema. Acima de tudo, pedra em movimento aparar as arestas no caminho e não cria limo!

Na família

A expectativa sobre as crianças é que elas sigam o padrão, está na hora de caminhar, de falar, a altura versus peso, o raciocínio lógico, a profissão ou mesmo os sonhos dos pais, uma profissão “decente” e rentável, segura. Guardar as aparências, demonstrar o que os outros esperam de nós, não pela nossa individualidade, mas pelas convenções e padrões, para não pagar mico.

Somos criados dentro de fôrmas sociais invisíveis. Por exemplo, a regra é a família preparar seus filhos para tirar boas notas na escola e buscar uma boa e bem remunerada profissão, só assim seus pais poderão descansar em paz. Com isto em mente, consciente ou inconscientemente, somos preparados para competir, para aparentar, para “vencer”, ganhar mais que os outros, adquirir mais que os outros, esse é o tradicional e aceitável caminho para a felicidade.

A escola e faculdades tradicionais

O modelo convencional é o conteudista, cumprindo etapas conforme a idade, conhecimentos depositados, com a explosão demográfica é muito caro tratar uma criança como se ela NÃO fosse um número. São 40 alunos na sala, não dá para entrar no mérito de potencialidades natas, de afinidades com certas áreas do conhecimento, do desenvolvimento pleno de suas capacidades. No sistema, as escolas desconsideram o que o aluno tem a oferecer, pois contabiliza e trabalha apenas aquilo previsto que ele deve aprender.

As escolas são fábricas, elas precisam cumprir metas, fechar quotas, o ensino é o mais padronizado possível, a avaliação é 100% comparativa e não individual. O objetivo é o atacado e não o varejo, algumas aulas e disciplinas já se utilizam mais de workshops, de aulas mais interativas, baseadas no lúdico, buscando a sinergia entre o que cada aluno tem a agregar com um conteúdo que gera valor na soma, como eram os maternais, pré-escolas, como era antes de iniciarem as aulas curriculares do ensino fundamental, médio e a graduação.

Escolas de Inovação

Essa é uma necessidade de mercado ao mesmo tempo que é um dos maiores paradoxos da vida contemporânea, a família, escola e vida social nos bitola e depois pagamos alguém para tentar nos mostrar que podemos voltar a sermos crianças, sem medo de errar, com vontade de experimentar, cheios de idéias malucas para validar … já está tudo lá, mas após décadas de supressão é preciso reaprender a brincar, a fazer diferente por simples prazer, a se desafiar e lidar com as pequenas possibilidades de acertar frente as muitas e maiores de errar.

Na antiga Grécia as escolas ofereciam aulas baseadas no debate e no aspecto filosófico para o estudo das ciências então conhecidas. Desenvolvia-se nos alunos a capacidade intelectual, o poder de abstração, de síntese, valorizava-se a cognição, a atitude e as habilidades natas, usadas para uma percepção própria dos conteúdos acumulados pela humanidade até ali, em constante crescimento.

Capacidade Absortiva e Ócio Criativo

A habilidade em valorizar diferentes conhecimentos, armazená-los e obter sinergia entre eles de forma a conseguirmos encontrar soluções, oportunidades ou perceber riscos com maior facilidade, também conseguir com maior facilidade inovar, ter idéias espontâneas ou provocadas.

Por exemplo, um indivíduo da área de tecnologia digital pode com o acumulo de conhecimentos de diferentes campos do conhecimento como da psicologia, artes, produção, música, sociologia, comunicação, etc, gerar facilmente um vórtice de idéias quando desafiado enquanto a maioria das pessoas que se deixam levar pela rotina tem maior dificuldade em fazê-lo.

Para encerrar, vamos falar de ócio criativo, o conceito não é não fazer nada e esperar que as idéias surjam, o filósofo italiano Domenico de Masi afirma que devemos ter prazer em fazer diferente, filosofar vez em quando, refletindo, construindo, desconstruindo e reconstruindo, com vontade e desejo … O acumulo do conhecimento com entusiasmo, proporciona a inovação através do prazer em empreender o novo.

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