Creio que o maior dilema da Teoria da Agência é o conflito de interesse gerado entre o dono do capital (principal) e o seu representante (agente), enquanto o principal vê a empresa como um negócio, o agente e seus delegados a veem como um emprego, apenas reafirmado através da geração de resultados mensuráveis.
Daí vem o dilema na tomada de decisão para ações que gerem resultados cada vez mais imediatos, podendo comprometer resultados futuros, mais sustentáveis, energizando a eterna dicotomia em que o principal, seus diretores e os gerentes, precisam responder com números para serem mantidos e valorizados.
Tanto nas organizações, na política e engenharia social a solução é a dialética, na participação e colaboração de todos. As metodologias ágeis, desde a cultura Toyota dos anos 50 propõe-se a uma maior participação e dialética aplicadas a organização para a tomada de decisões mais consistentes e sustentáveis.
Nas empresas
Desde a revolução industrial o modelo mental baseado em comando-controle e em decisões imediatistas gera riquezas muitas vezes insustentáveis. Um gerente precisa mostrar resultados práticos, numéricos, para que o diretor o mantenha e valorize, fazendo jus aos benefícios, além de eventual e desejada premiação.
Lembrando que o verbete “insustentável” não só pode ser percebida na dimensão ecológica, mas negócio, tecnológico e humano, qualquer profissional de mercado tem histórias de desperdício, oportunismo e distorções criadas por “agentes” de forma a mostrar o que é de seu interesse, atitude que nos remete a famosa e brasileiríssima “Lei Ricúpero” (o que é bom a gente mostra, o que é ruim não).
Modelos baseados na administração clássica e mecanicista, ainda mantido pela maioria das empresas, são ricos em oportunidades para os “operários” saberem com antecedência que algo será prejudicial a médio/longo prazo, que a decisão é equivocada por gerar resultados fáceis mas maquiados, duvidosos, imediatistas.
Organizações que se utilizam da totalidade do capital intelectual das empresas geram resultados mais duradouros, mais sustentáveis, mas para isso é preciso tirarmos proveito da dialética como meio para a tomada de decisão. Não é a revolução dos bichos, é pedir a colaboração deles para uma fazenda melhor.
Na política e cultura brasileira
Na política, o principal é o povo e o agente é o presidente, que nomeia seus ministros, secretários e diretores, espraiando-se em CC’s Brasil afora. A dicotomia é a mesma, enquanto o povo espera decisões de longo prazo, de cunho humanista, o que vemos é uma corrida contra o tempo para manter o status quo.
A cultura brasileira está impregnada de fatores imediatistas, suas origens talvez remontem à insegurança e precariedade de nossas posições, política, econômica e social, mas o fato geral é que o fascínio do enriquecimento rápido e fácil é um paradigma ainda a ser quebrado, nossa famosa e mundialmente reconhecida como brasileira “Lei do Gerson” (queremos levar vantagem em tudo).
Em nossos políticos, comércio, empresas nacionais ou multinacionais aqui estabelecidas, há uma distorção naquilo que deveria ser a ética, lei de mercado e na previsível mão invisível de Adam Smith. Os negócios, independente do custo Brasil, geram fortunas a rodo, não pelo empreendedorismo e pela inovação, mas pelo oportunismo e exploração.
Imediatismo, tanto políticos quanto empresários refletem a cultura e dicotomia visível no povo, do diretor ao pipoqueiro, de internacionais a camelôs, o que se espera dos donos e gestores de negócios, públicos, empresariais e autônomos, são decisões que perpetuem seus negócios de forma ética e sustentável.
Há honrosas exceções, mas no Brasil os fins sempre justificam todos os meios!
Cheguei mais ou menos às mesmas conclusões. Nas poucas oportunidades que tive de liderar eu pude viver esse desafio do agente, mas também pude constatar que é possível reverter essa atitude imediatista, até mesmo inconsequente, da busca pelo resultado insustentável. Hoje mesmo, nestes dias entre o final de 2014 e o começo de 2015, eu estou entrincheirado na defesa de posições técnicas contra decisões superficiais (veja meus posts sobre Data Discovery, em http://bit.ly/1zO0t78, e depois sobre Data Vault, em http://bit.ly/1xJXHEZ), alertando continuamente sobre as consequências de certos caminhos adotados. Por isso digo que perdi a fé. 😉
CurtirCurtir