Estamos hoje (27/07/21) há um ano e meio da imersão na pandemia covid-19, teremos mais meio ano remoto, mais um tanto em um regime hibrido (provavelmente jamais seremos os mesmos). Um ano e meio desde que a realidade nos exigiu a adoção de meios virtuais para o trabalho, as aulas, para a vida.
Quando Prensky cunhou o termo “imigrantes digitais”, ao mesmo tempo questionava o status quo e defendia uma transformação na educação – metodologias ativas, aprendizagem baseada em jogos, maior empatia com a primeira geração digital e exponencial número de imigrantes, com o mundo acessível a um click.
Marc Prensky é autor de sete livros e mais de 100 ensaios sobre educação e aprendizagem. Pós-graduado por Yale e pela Harvard Business School, cunhou o binário “nativo digital” e “imigrante digital” em On the Horizon (2001) – https://marcprensky.com:
Prensky, reconhecido pela “Parental Intelligence Newsletter” como “guiding star of the new parenting movement”, defende abordagens e premissas andragógicas à pedagogia. O aluno, mesmo crianças, precisam ser ouvidas, precisam discutir, juntos atribuir razão e valor aquilo que poderiam e aprendem.
Mais que isso, tornou-se impossível entrar em sala de aula pensando em ensino hierárquico, mas sim em um ato democrático. Frente a uma geração que tem a um click da internet todo e qualquer conteúdo, informação e conhecimento, é preciso associar-se ao invés de guiar, facilitar ao invés de protagonizar.
Imperativo
Um ano e meio desde Março/2020 a Julho/2021 e temos muitas instituições e professores ainda inertes frente a necessidade de assumirem-se como imigrantes digitais. É imperativo ser multimídia, usar breakout rooms, whiteboards, interação digital com co-criação de mapas mentais, enquetes, colaboração, quiz, etc.
Não é uma opção atender nativos digitais, é uma realidade, um fato, urge. Em metodologias ágeis chamamos este imperativo de linguagem ubiqua – a área de tecnologia não fala tecniquês, mas aprende e falar a linguagem do cliente … batizada de linguagem ubiqua, do negócio, produto, empresa, segmento, …
Por ser um tema de meu interesse, sempre bato um papo com a meninada e tenho muitos relatos de filhos de amigos e jovens que ainda tem muitas aulas expositivas de 90 minutos (por vídeo). Não é uma crítica, mas questiono se isso retem a atenção e gera conhecimento, uma hora e meia falando e alunos ouvindo.
Transformação
O que vem antes, o ovo ou a galinha? O que precisa mudar primeiro, a instituição, o professor ou os alunos? A meu ver a transformação muda de abrangência e dimensão conforme os envolvidos. A instituição tem o poder de investir na transformação de professores e alunos. Os professores podem mudar a sua aula até onde é possível. Os alunos podem tão somente recorrer ao professor, ao coordenador do curso ou a ouvidoria.
Professores, instrutores, facilitadores, quem ainda não migrou para o mundo digital, está na hora de migrar. Peça ajuda, pareie com alguém, um colega, comece pequeno, faça seu MVP e evolua gradualmente. Há um mundo de possibilidades usando whitaboards como Miro/Mural/Conceptboard, quiz/enquetes/interações como Kahoot/Mentimeter/Quizizz, Autogestão com Trello/Asana/Kanbanize, etc.

Frequentemente me perguntam “Mas não sou obrigado a usar ferramentas e jogos em aula?”. Eu sempre respondo que NÃO, não somos obrigados a usar estas ferramentas e abordagens, não é uma questão de obrigação ou imposição, é uma questão de “era”. Em pleno ano de 2021, não é uma questão de imposição, mas é a era em que vivemos, é o mindset vigente … e com certeza venho para ficar.
Conclusão
Estamos atrasados gente, de que adianta repetir sobre ensino-aprendizagem, construtivismo e Piaget, experiencial de Kolb, esquecimento de Ebbinghause, Significativa de Ausubel, pirâmide de Glasser, escolha de Deming, carga de Sweller, também sobre jogos e ludificação com Huizinga, Murcia, Dinello. É preciso parar de procrastinar e tentar, evitar a Dissonância Cognitiva, a Síndrome do Impostor ou Crenças Limitantes … e tentar.
ATENÇÃO: O ministério da educação adverte, ser imigrante digital, assim como ser Baby Boomer ou X não é a maldição da múmia, eu já fui Boomer, já fui X, Y, hoje estou aprendendo a ser Z. Nós não somos eternos imigrantes, porque após radicados, passamos a ser naturalizados … passamos a ser digitais. Pense nisso!

Bibliografia
Digital Game-Based Learning ( McGraw-Hill 2001),
Don’t Bother Me Mom – I’m Learning (Paragon House 2006),
Teaching Digital Natives(Corwin Press 2010),
From Digital Natives to Digital Wisdom: Hopeful Essays for 21st Century Learning (2012),
Brain Gain: Technology and the Quest for Digital Wisdom (2012),
The World Needs a New Curriculum (The Global Future Education Foundation, 2014),
Education To Better their World: Unleashing the power of 21st century kids (Teachers College Press, 2016).