Tropecei em uma teoria inspiradora, que vale muito ser conhecida, algo que teve origem em um amplo estudo bibliográfico em um sistema de registro (patentes), com o singelo objetivo de compreender padrões perceptíveis no processo de inovação que levaram à uma nova solução industrial.
Proposta pelo russo Genrich Altshuller a partir da década de 40 enquanto funcionário de um escritório de registros industriais (patentes). Ele pôs-se a analisar centenas de patentes, buscando entender o porque eram inovadoras e qual teria sido o processo criativo que os desenvolveu.
TRIZ ou teoria da solução inventiva de problemas ou “теория решения изобретательских задач” ou [teoriya resheniya izobretatelskikh zadatch]
Apesar de Altshuller chamar de teoria, é um método de trabalho que nos diz muito sobre sistematização de ideias criativas. Mesmo sendo de origem e aplicabilidade industrial, direcionado a produtos e seus processos, tem muito a nos ensinar em termos da ciência do processo criativo.
Iniciar entendendo o problema, esclarecer seu contexto, estabelecer um objetivo, para então debruçar-se nele da mesma forma que um cientista debruça-se sobre uma bancada. Pura “criatividade” científica, analisando, estudando, registrando, criando novas hipóteses e trabalhando muito para validá-las.
Pessoalmente, achei genial, anos 40, o cara só não teve uma projeção absolutamente exponencial porque estava na Rússia, aprentemente funcionário em um escritório de patentes da marinha russa … o trabalho é genial, inspirador, fosse um americano e teria feito história e fortuna …
Seus estudos diferenciaram patentes em 5 estágios criativos práticos – uma melhoria simples em algo conhecido (1), uma evolução técnica necessária (2), uma evolução conceitual (3), uma inovação real usando uma nova tecnologia (4), algo realmente disruptivo e inesperado (5).
Seus estudos e trabalho o levou a conceber uma lista de 40 princípios criativos, que aplicados em um problema ou desafio, desenvolve-se na busca de uma solução inovadora. Para que sua abordagem seja implementada de forma eficaz, é preciso passar por quatro passos:
1º. Declarar a contradição – proponha um desafio, problema a ser resolvido, processo ou produto a ser melhorado ou criado;
2°. Expansão da compreensão – Explicite o contexto, o que sabemos sobre o problema, o 5w2h da questão que vamos atender;
3°. Defina o estado ideal – Declare o seu objetivo ideal para o resultado daquilo que queremos desenvolver, melhorar ou criar;
4°. Gere ideias – Siga os 40 princípios criativos mapeados, sozinhos ou combinados, metodicamente, até chegar a solução desejada.
Para quem é de software, administrativo, financeiro, logística, segmentos, RH, … pode parecer que nenhum dos 40 princípios fazem sentido, mas tente enxergar o que há por trás, o que este método tem a nos ensinar sobre olhar fora da caixa, pensar contra a logica estabelecida, é uma aula de criatividade induzida.
Em cada princípio abaixo é possível reinterpretar em nossa realidade, ao invés de materiais temos passos de uma jornada, front e backstage de um service blueprint, ao invés de sólidos, líquidos e gasosos, temos pessoas, ferramentas, processos e ambientes que podem ser analisados e ressignificados em suas relações.
Dos 40 princípios, separei 7 em uma análise holística de uso:
- Segmentação (analisar e repensar cada uma das partes que compõe o todo);
- Extração (retirar uma parte e repensar criativamente a solução);
- Consolidação (uso criativo das partes, gerando uma solução diferente);
- Assimetria (criatividade pelo desapego a padrões simétricos e estéticos);
- Aninhamento (decompôr e colocar uma parte dentro da outra);
- Universalidade (tornar o objeto ou suas partes multifuncionais);
- Qualidade local (atribuir ao objeto ou parte uma função adicional).
Outros 7 que exploram a física das partes:
- Contra-peso (explorar contra-pesos, equilíbrio e decomposição de forças);
- Equipotencialidade (explorar diferentes movimentos, órbitas, direções);
- Inversão (Inverta, modifique a ordem, a sequência, a montagem);
- Esferoide (experimente as curvas e esferas, tente algo inesperado);
- Homogeneização (tente compatibilizar diferentes materiais);
- Materiais compostos (troque materiais homogêneos por compostos);
- Cópias (use opções de materiais temporários ou iniciais mais simples).
Outros 7 dizem respeito a qualidade:
- Amortecimento prévio (antecipe falhas para preveni-las e evitá-las);
- Compensação prévia (antecipar ações que possam evitar ocorrências);
- Ação prévia (planejamento de ações para otimização dos resultados);
- Mediação (inovar componentes para mitigar ou resolver ocorrências);
- Ação parcial ou excessiva (redimensionar ações para mais ou menos);
- Aceleração (acelere o fluxo do processo para se antecipar aos fatos);
- Auto-serviço (tente automatizar avaliações e tolerância a erros).
Mais 6 princípios relativos a ação:
- Dinamização de propriedades (entenda os impactos de partes e forças);
- Uma nova dimensão (amplie o modelo, as variáveis, veja o entorno);
- Vibração mecânica (force ondas mecânicas ou sonoras e avalie);
- Ação Periódica (Analise ação e reação frente a ações repetitivas).
- Uso e descarte (avalie o uso de material descartável).
Há 5 princípios que dizem respeito a planejamento:
- Rejeitos e Regeneração (planeje os processos de regeneração e assimilação);
- Continuidade da ação útil (uma boa gestão do tempo, produtivo ou ocioso);
- Prejuízo em lucro (ressignificar as possibilidades do indesejado);
- Retroalimentações (um monitoramento eficiente pode gerar insights);
- Mudança de cor (é possível usar cores como informação útil).
Há também 9 princípios relativo à materiais:
- Meios mecânicos (uso de magnetismo, elétrica, acústica, táctil, SW);
- Pneumática e Hidráulica (pensar novos elementos como meio ou parte);
- Filmes e membranas flexíveis (uso de elementos finos, suficientes);
- Materiais porosos (uso de poros e espaços como tática construtiva);
- Parâmetros e propriedades (transformar estados físicos e químicos);
- Mudança de Fase (como aproveitar energia pela troca de fases e estados);
- Expansão térmica (controle sobre a dilatação e retração de materiais);
- Oxidantes fortes (uso variado de oxigênio no sistema);
- Atmosfera inerte (avalie o uso de ambiente inerte ou compensatório).
Quanto a referências bibliográficas e links de referência, das primeiras edições russas desde a década de 60 às internacionais em inglês nos anos 90:
ALTSHULLER, G. S. Innovation Algorithm. Worcester: Technical Innovation Center, 1999 (1ª ed russa 1969).
ALTSHULLER, G. S. Forty Principles. Worcester: Technical Innovation Center, 1998 (1ª ed russa 1974).
ALTSHULLER, G. S. Creativity as An Exact Science – The Theory of The Solution of Inventive Problems. 1a. ed. Luxemburg: Gordon & Breach, 1984.
ALTSHULLER, G. S.; ZLOTIN, B.; ZUSMAN, A.; PHILATOV, V. Tools of Classical TRIZ. Southfield: Ideation International, 1999.
SALAMATOV, Y. TRIZ: The Right Solution at the Right Time – A Guide to Innovative Problem Solving. Hattem: Insytec, 1999.
SAVRANSKY, S. D. TRIZ for Engineers. Berlin: Springer, 2000.
. https://www.triz.org/
. https://blogdaqualidade.com.br/triz-40-tons-de-inovacao-parte-1/
. https://blogdaqualidade.com.br/triz-40-tons-de-inovacao-parte-2/
. https://blogdaqualidade.com.br/triz-40-tons-de-inovacao-parte-3/