Vale a pena entender o Exploitation e Exploration

O conceito de “exploitation” e “exploration” do conhecimento foi proposto por James G March em 1991 na revista Organization Science e foi debatido na aula da Prof Mirian Oliveira sobre Gestão do Conhecimento. Ao discutirmos estes dois conceitos é possível ampliar o entendimento de que tipo de empresa e profissional nós somos. É possível perceber em meio a estes dois conceitos um continuum entre a inovação e a execução, fases que podem ser entendidas pelo simbolismo da transpiração ou da inspiração.

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Um modelo teórico que nos faz refletir a estratégia não só de empresas, mas de nossas carreiras, afinal, o quanto o tempo passa e estamos em nossa zona de conforto, faturando ou recebendo salários apenas em EXPLOITATION, sem buscar novos conhecimentos, sem inovar, não percebendo o tempo passar? No contraponto é possível perceber startups que focam no exploration, na inovação como fim, enquanto na verdade deveria ser um meio, a solução é gerar um ciclo iterativo-incremental, um constante equilíbrio natural entre novos conhecimentos, a consolidação e o domínio dos mesmos.

EXPLOITATION

March (1991) teorizou a fase de exploitation do conhecimento como sendo a escolha de investir em conhecimentos já assimilados, de forma a monetizá-lo, produzi-lo, refiná-lo, criar processos e relacionamentos para convertê-los em crescimento econômico. Exploitation pode ser percebido como uma fase de investimento naquele conhecimento que lhe permite ter maior domínio das atividades necessárias para desenvolver a maior eficiência e performance no atingimento de metas de crescimento e recompensa previsível e escalável.

Na fase de exploitation, o domínio do conhecimento nos incita ao mesmo tempo em aprimorá-la, reduzir seus custos e ampliar a receita proveniente de processos e rotinas mais racionais, escaláveis, repetitivos, o conhecimento é convertido em regramento, normas, previsão e tratamento de riscos, estabelecimento de boas práticas, na busca pela regulamentação deste conhecimento.

Algumas empresas e profissionais exploram uma fase de exploitation até o seu esgotamento, tornando-se obsoletos. O início de um ciclo autofágico de exploitation pode ser de crescimento, pode atingir uma hegemonia, mas se a empresa ou profissional não estiver atento ao mercado e a competitividade, pode a perceber tarde demais que um novo conhecimento surgiu e acabou perdendo seu diferencial e competitividade.

Em resumo, a fase de exploitation se utiliza de conhecimento existente e dominado para gerar uma economia de escala ou estabelecimento de um crescimento consistente, quer econômico e/ou reconhecimento (visibilidade). Já postei sobre Argyris e sua teoria de single e double loop, exploitation seria a estabilização de uma fase de single loop, de aprendizagem a nível operacional, no refino de um conhecimento já consolidado. Trata-se de uma fase importante para o aproveitamento do conhecimento e estabilidade organizacional ou profissional.

EXPLORATION

A fase de exploration é simbolizada pela inovação, pela geração de novos conhecimentos, podendo este ser algo novo ou uma nova forma de trabalhar um conhecimento anterior. Estamos falando de estudo, pesquisa e experimentação, investir na inspiração, ideação e teorização, assumir riscos, é trabalhar em ideias novas sobre as quais não existem garantias e olham para o futuro.

Uma fase que possui um grande range de possibilidade e oportunidades, com maior ou menor risco, mais ou menos disruptiva, assumindo mais ou menos riscos, partindo de conhecimentos já dominados e que tem potencial para se reinventar ou conhecimentos inovadores e imprevisíveis, que exigirão mais tempo e talvez enfrentarão maior resistência e exigirão maior empenho na proposição e entendimento.

É uma fase que está mais baseada no conhecimento tácito e intimamente ligado ao desenvolvimento de novos produtos e serviços e ao doble-loop de Argyris, gerador de novas aprendizagens, que desafiam o modelo mental vigente, reinventando-se se necessário para eliminar restrições geradas pelo conhecimento já estabelecido e se permite a ir além. desafiando a práxis vigente e a abordagem dominante. É possível pressupôr que a fase de exploration pode assumir mais ou menos riscos, mas sempre focado no novo.

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A solução não está somente no exploitation e nem no exploration, mas no equilíbrio. Creio que seja um entendimento adequado buscar o equilíbrio entre ambas, mas este equilíbrio sempre envolverá uma tomada de decisão baseada em uma análise de risco. Investir em ambas através de equipes de P&D mitigam este risco, mas não o eliminam, grandes organizações já entraram em colapso mesmo detendo novos conhecimento, pois não tomaram a decisão de converter o novo em um novo padrão.
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Trata-se de uma sucessão contínua e crescente de tomadas de decisão, a de investir em pesquisa, em novos desenvolvimentos, em identificar um novo conhecimento desenvolvido como promissor, validá-lo e finalmente decidir continuar investindo ou pivotar. Para tudo isto há um limite de início, meio e fim, podemos eventualmente estar com o novo conhecimento na mão mas perdermos o timing de promovê-lo. Para algumas organizações, desde startups a megacorporações, é o divisor de águas entre o sucesso, renovação e colapso.

A conversão de conhecimentos e ideias em negócios e benefícios, quer empresariais e/ou sociais no modelo mental promovido por uma sociedade do conhecimento está baseada na colaboração e no aproveitamento do capital intelectual. Quer pelo modelo SECI de Takeuchi e Nonaka, Lean Thinking e Métodos Ágeis baseados na auto-organização, Service Thinking e Design Thinking, Gamestorming, … há uma grande variedade de sugestões e formas de potencializar a ideação e inovação em princípios de interação e iterações.

Os autores Burton e Obel afirmam no livro Strategic Organizational Diagnosis and Design: The Dynamics of Fit, que a 3M manteria em torno de 30% de exploration (novos produtos, serviços e mercados) a cada ano. Esta taxa impede que a empresa fique refém de produtos já assimilados pelo mercado, estes sempre possuem um risco maior de serem analisados e disputados, talvez superados por novos produtos da concorrência.

Qual é a sua opção como profissional ou de sua empresa??? Você é uma startup ou profissional que não sai da fase de exploration, tem ideias mas não as traduz em inovação e empreendedorismo? É um profissional que sobrevive apenas de exploitation e a cada ano que passa torna-se um pouco mais obsoleto? Você aproveita o valor do exploitation, mas investe no exploration com convicção?

MATRIZ BCG

Há um canvas proposto pelo Boston Consulting Group, conhecida como Matriz BCG, que tem em seu eixo X a participação de mercado e no eixo Y a taxa de crescimento do mercado. Uma provocação relativa ao equilíbrio entre Exploration e Exploitation está brevemente demonstrada abaixo:

Matriz BCG – Boston Consulting Group

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