De onde saem meus posts? De minha inclinação a filosofia, sexta estava conversando com a Ana Hermann e ela citou o conceito de analysis paralysis em jogos. Acabei dedicando a noite de sexta à leitura, reflexões e derivações que me fizeram refletir sobre microgerenciamento.
“gestão com controle ou atenção excessivos nos detalhes” – Merriam Webster’s
“gestão ou controle com excessiva atenção aos menores detalhes” – Reference.com
“atenção a pequenos detalhes na gestão: controle de uma pessoa ou situação prestando extrema atenção a pequenos detalhes” – Encarta
“A noção de micro-gerência pode ser estendida a qualquer contexto social em que uma pessoa adota uma abordagem agressiva ao nível de controle e influência sobre os membros de grupo. Frequentemente, esta obsessão com os menores detalhes causa uma falha de gestão direta na habilidade de focar nas questões maiores” – Harry Chambers em My Way or the Highway (2004)
Inexiste agilidade lastreada em microgerenciamento, impossível falar de auto-organização e equipes de alta performance sem pressupor liderança ágil e delegação. Microgerenciamento destaca o líder, porque suas equipes acabam sendo dependentes, com medo de errar.
Você já ouviu falar no “Dilema da Centopéia” como alegoria ao equivoco de tentar controlar algo que deveria ser fluido, dinâmico e descentralizado? O cérebro consciente deve decidir sobre a direção, mudanças, não sobre a posição de cada dedo do pé conforme o terreno.
Qualquer controle não deveria impedir que decisões do dia-a-dia sejam tomadas, centralizando decisões de trabalho. Aquelas atividades que deveriam acontecer naturalmente não devem exigir esforço de adivinhação ou auto-proteção, acarretando desperdício de tempo e recursos.
O Dilema da Centopéia
Um poema do século XIX fala de um sapo espertinho que pergunta a uma apressada centopeia que passava ao largo: Qual a próxima pata que ela iria mover? A centopeia faceira ao tentar racionalizar seus movimentos para responder a pergunta, tropeça e cai no charco.
Líderes não deveriam recorrer a microgerenciamento, declarando não confiarem na capacidade de seus liderados, apenas na sua própria decisão. Nestes casos, aos times resta tentar antecipar o que o líder vai decidir ou tropeçar, “cair no charco” com atrasos e retrabalho.
Microgerenciamento
Meu estudo no mestrado usou o modelo Job Strain Model de Karasek, que estabelece trabalho ativo como aquele onde há alta demanda e autonomia do executor sobre a forma como melhor pode realizar, o oposto é trabalho passivo, reduzindo o controle e gerando desperdício.
O microgerenciamento gera trabalho passivo e zona de conforto, mesmo não transparecendo, o foco é entregar aquilo pelo qual vai ser cobrado, evitar riscos e pró-atividade, pois ela pode não ser bem aceita, uma situação que é a antítese de equipes auto-organizadas.
A obsessão por controle cria feudos (silos) e demonstra desconfiança da liderança na capacidade e qualificação de suas equipes em fazer o seu trabalho e tomar decisões cotidianas, gerando um ciclo vicioso de comando-controle, ações reativas, stress, atraso e zona de conforto.
Paralisia de Análise
Chamamos de paralisia de análise situações que poderiam ser fluidas, dinâmicas, seguindo pressupostos e modelos que mostram que profissionais do conhecimento necessitam de espaço e alçada para fazerem seu trabalho da forma melhor e otimizada, ainda mais em equipe.
O overhead gerado por muitos controles e restrições em atividades e tarefas do dia-a-dia gera apenas demora nas tomadas de decisão, coisas simples e imediatas geram tensão e dúvidas, não sobre o que é o melhor, mas o que o gerente espera ou exige de fato naquela situação.
É o oposto dos princípios iterativo-incrementais-articulados propostos pelos princípios e métodos ágeis, baseados em equipes auto-organizadas, até mesmo porque comando-controle e pressão só é eficiente em atividades braçais, repetitivas, onde o capital intelectual não é o diferencial.
Reflita, com o passar do tempo deixamos de ouvir falar sobre CMMI e MPS-Br, enquanto é crescente e onipresente DevOps, Management 3.0, Agile e TI-Bimodal, temos o PMBOK Ed 6 e seu apêndice ágil, estudos cintificos crescentes sobre Agile Governance e Agile PMO – porque será?
Ótima reflexão Jorge. Os reflexos também são extremamente negativos nos próprios líderes, que deixam de dedicar tempo à estratégia e outras questões importantes para saúde dos times.
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Uso a alegoria do corpo humano, se o cérebro usar 100% da sua capacidade para gerenciar cada músculo, sutileza, órgãos, membros, não sobrará tempo para mais nada. A ciência diz que o cérebro humano para não chegar a fadiga se utiliza de hábitos, condicionamento e dedução antecipada … o mesmo vale para um líder, se microgerenciar não sobrará tempo para aquilo que realmente ele é pago! 😦
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