Na década de 90, Wesley Cohen e Daniel Levinthal publicaram um artigo sobre Teoria da Capacidade de Absorção: Uma Nova Perspectiva sobre Aprendizagem e Inovação organizacional. Ao ler sobre esta teoria é impossível não lembrar do conceito de capacidade absortiva, do modelo SECI e Bá, do modelo de Exploitation x Exploration e da Teoria da Organização Baseada no Conhecimento, temas que declaro minha paixão a alguns anos e posto com frequência.
A capacidade de absorção é a capacidade da organização perceber oportunidades externas e absorvê-las, uma habilidade intrínseca e não extrínseca, pois para perceber valor em informações externas é preciso possuir uma boa base interna de conhecimento internalizado, amplo, variado, consistente, assim como energia latente pronta para gerar movimento, não ao acaso, mas em base heurística (*).
A Teoria da Capacidade de Absorção e o conceito da Capacidade Absortiva nos leva a refletir sobre nossa verdadeira capacidade criativa, aquela que nos leva a resolver problemas, nos impulsiona à inovar, uma energia que nos move a frente, ao mesmo tempo imanente e construída, nata em cada indivíduo da organização e sinérgica nas organizações inovadoras.
Capacidade Absortiva
A oportunidade de acumular diferentes informações de forma a aumentar a capacidade de armazená-las, processá-las, mixá-las, gerando facilidades para a sua recuperação e para a geração de inovação e novos conhecimentos a partir da combinação e experimentação da massa e energia existentes.
Segundo Cohen e Levinthal, as capacidades criativas e de absorção são semelhantes, oriundas da habilidade em absorver conhecimentos existentes em conjunto com a habilidade de gerar novos conhecimentos. O conhecimento prévio e heurístico constituem a capacidade de resolver problemas relacionados, mas também potencializa a capacidades de resolução de outros problemas.
Estamos falando de sinapses, uma base diversificada proporciona agilidade na resposta em situações desconhecidas, estimulando ligações cognitivas e criativas. Esta capacidade pode ser analisada nos indivíduos, mais ainda em organizações, somatório do potencial de um grupo de pessoas com foco em resultados.
Capacidade de Absorção Organizacional
Lembram dos posts sobre Capacidade e Competências Individuais, Coletivas, Organizacionais e Ambientais? É natural que tenhamos uma leitura holística, quando o todo (organização) é resultado, soma e maior, que as suas partes. A transferência de conhecimento através das fronteiras organizacionais e ambientais se dá através de suas sub-unidades, individuais e coletivas.
A capacidade de compartilhar e mesmo gerar conhecimento deriva da habilidade em saber quem sabe o que, estabelecendo a gestão deste conhecimento, interno e externo, gerando uma rede de relacionamentos internos e externos, ampliando os mecanismos de recuperação e processamento destes conhecimentos.
É preciso buscar um ponto de equilíbrio que instigue a diversidade e autonomia, ao mesmo tempo que procure uniformidade e domínio. Voltamos aqui ao desafio da gestão do conhecimento tácito e explícito, que nos permita não só gerar e consolidar o conhecimento existente, mas identificar, assimilar, transformar e aplicar o conhecimento externo.
A contra-alegoria da Caverna de Platão
Empresas voltadas apenas para dentro tendem a não perceber a fluidez do mundo lá fora, desde startups a mega-corporações, a Teoria da Capacidade de Absorção Organizacional chama a atenção para a dinâmica de um mercado globalizado e competitivo em que devemos nos preparar para estar absorvendo informações e conhecimento externo como meio para inovar e crescer.
Em suma, você precisa de uma estratégia e mesmo empresas que possuem áreas de P&D precisam estar com os olhos abertos para o mundo e conectadas em uma rede de conhecimento, onde informações se movem aleatoriamente e se bem trabalhadas podem compartilhar e gerar conhecimento e inovação.
Vivemos em um mundo conectado, onde o networking e a pesquisa disponíveis estão a disposição de todos, quer indivíduos de uma organização ou a própria organização. A participação em diferentes fóruns de conhecimento, como Grupos de Usuários, Comunidades de Prática, Associações, etc, é um passo importante que deve ser corretamente orientado e organizado. O impossível é tentar esconder-se deles, como na caverna de Platão … é tapar Sol com peneira!
O universo organizacional já não é a busca pelo isolamento e o medo da exposição pura e simples, a participação em rede com o seu segmento e mercado, se você ainda não repensou o seu relacionamento com parceiros estratégicos e players complementares, fique ligado, porque enquanto isto muitos já o fizeram até mesmo com a concorrência, criando o conceito de coopetição.
Conhecimento é patrimônio, assim como o capital intelectual existente pelo somatório dos conhecimentos dos colaboradores em uma organização, organizar mapas e mobilizar talentos é o desafio. Manter abertos e acessíveis os diferentes canais deste patrimônio na organização reforçará o seu negócio atual (exploitation) e gerará inovação (exploration).
Aqui faço minha parte, compartilhando conhecimento acadêmico útil, subindo sobre os ombros de gigantes, desde Platão às pesquisas deste início de século, alertando e questionando: Você e sua organização estão dentro ou fora da caverna de Platão???