Agile é a arte de se antecipar, perceber hoje o que saberíamos só amanhã

Quando me pedem para explicar o termo Agile, que não tem tradução literal, eu digo – Agile é fazer algo de forma a antecipar, dia-a-dia, a percepção e (re)ação sobre riscos e oportunidades.

Gosto de dizer que Agile, inovação, colaboração, comunicação assertiva, foco em real valor, são MÚSCULOS que precisam treino, exercícios frequentes, não é só reunir, são competências a serem aprimoradas. No mestrado criei um modelo em que relacionava competências individuais (Gramigna), coletivas (Retour) e essenciais (Hoskisson).

SILOS E TERCEIRIZAÇÃO

Antigamente, nos silos do século XX, a boa prática eram entrevistas feitas por um especialista, um analista conversava um a um com o cliente, stakeholder, key-user e usuário, para em sua mesa criar um modelo de seu entendimento, a ser aprovado.

Este modelo, algo de gráfico e muito texto, era enviado ou apresentado aos envolvidos e após a leitura ou apresentação havia a validação se estava tudo ali e um ACEITE. O ganho à época era não ocupar muito tempo do cliente, ele tinha mais o que fazer.

No waterfall, esse era o tom, o cliente queria dizer o que queria, desperdiçando o menor tempo possível, confiante que um analista de negócios ou sistemas era um especialista e saberia fazer a coisa certa, havia ALI a terceirização da responsabilidade.

As estatísticas do Standish Group sobre projetos de software do século XX mostravam a cada ano taxas absurdas de desperdício, em valores, tempo e satisfação pelos resultados finais (escopo). O nome dado pelo Standish a estes estudos foi “Relatórios do Caos”.

Era um silencioso “rolar com a barriga”, os silos e a terceirização geravam uma falsa sensação de controle a partir de relatórios, status report, estatísticas, todos aguardando o final do projeto, quando invariavelmente apareceriam as diferentes interpretações, entendimentos e desvios entre a solicitação (teoria) e a realidade de fato.

DO INDIVIDUAL PARA O COLETIVO

No Agile há uma coalizão para que dê certo, não há como eximir o cliente, não é possível terceirizar, se o projeto é dele e é importante, ele precisa envolver a si e aos seus, para que todos do projeto busquem entender e contribuir, serem ágeis, antecipando-se ao amanhã.

No século XX, Druker chamava de capital intelectual o maior bem das organizações, em Agile queremos comprometimento de TODOS em ciclos muito curtos de feedback, antecipando perguntas e decisões que só aconteceriam após semanas ou meses … isso é Agile.

Ainda hoje, enfrentamos hábitos na tentativa de terceirização, onde reunir pessoas é desperdício, mantendo um manto de pseudo-controle, porque sabemos que mudanças são a única certeza, perguntas precisam ser antecipadas, gerar pertença é o substrato.

O propósito de nos reunirmos com boas técnicas de facilitação não gera custo, mas antecipa perguntas que seriam feitas após semanas, engaja, gera empatia e sinergia, e de quebra evita críticas decorrentes do desconhecimento por não ter sido envolvido.

DOS SILOS PARA O FOCUS GROUP, DO FOCUS PARA O UNFOCUS

Há um exemplo da IDEO que debatia ideias para novas soluções em calçados, eles buscaram historiadores, podólogos, massagistas, sociólogos, visões singulares a de profissionais de criação, produção e marketing. É comum nos estudos de casos da IDEO termos psicólogos, sociólogos, historiadores, artistas, … profissionais que farão perguntas que aqueles 100% imersos não fariam.

Enquanto isso, pelo custo ou simplificação, falta de imaginação ou por pressa, vemos sessões deste tipo com poucos perfis envolvidos, mais do mesmo, escolhidos por adesão ou conveniência. Para disrupção e empreendedorismo, empresas deveriam ser mais ousadas e críticas para alocação de profissionais em concepções e planejamentos, isso encurta, antecipa e amplifica o seu valor.

É como quem diz usar Design Thinking deixando de fora quem mais seria garantia de ideias e perguntas fora da caixa, como quem diz seguir o Lean Startup e chama de validação falar com os mesmos, com parças, conhecidos, distorcendo o Get Out Of The Building para no máximo uma troca de sala em perguntas direcionadas, com respostas quase que propositalmente confortáveis e previsíveis.

UM NOVO SÉCULO COM NOVAS COMPETÊNCIAS

Para isso, o Agile busca reconhecer o valor de um ritmo de desenvolvimento sustentável, no valor da interação e da comunicação frequente, também no uso de jogos e técnicas que (re)treinam nosso cérebro a sermos livres, ousados, em olhar para o não óbvio, ir além do que está sendo pedido ou dito, para questionar e a partir do debate compreender ao invés de acatar.

Segundo Dado Schneider, o mundo mudou bem na nossa vez! Por cem anos valorizou-se os silos como a melhor forma de garantir, mas não estamos em uma linha de produção da Ford dos anos 20, é preciso colaborar, nos reinventar, ressignificar nosso papel em T. “Infelizmente”, no século XXI fazer o que o cliente disse ou pediu é insuficiente, é preciso debater, compreender, divergir para convergir.

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